Crenças e crendices no ambiente corporativo

Gustavo Rocha
Gustavo Rocha

Crença é sinônimo de fé? Em fato, pela lógica deveria ser sinônimo de dúvida. Não afirmando que dúvida existe naquele que tem crença, mas que qualquer crença nos leva a dúvidas.

Vamos deixar claro que não estou falando de religião. Vamos falar aqui das crenças e crendices corporativas.

Crenças como que pessoas com muitos anos na mesma empresa sabem tudo (podem ser acomodadas e saberem pouco), pessoas mais novas são de pouco trabalho (nem todas) e por aí vai.

E crendices, como crer que sem regras, treinamentos e visão de onde estão indo as pessoas irão permanecer na empresa.

E porque crenças tem a ver com dúvidas? Vejamos este texto filosófico:

A Fé da Dúvida

A crença é uma aceitação de verdade, porém, é também o fundamento da dúvida em sua dimensão teológica e filosófica, daí porque questionar de forma alguma é incompatível com ter uma fé.
O século do Esclarecimento ou, como ficou conhecido nos textos que o espírito humano produziu, o Iluminismo, pôs como seu estrado fundamental a busca pela certeza. E, como consequência, bradou: “é mais apropriado duvidar que aceitar qualquer coisa pela fé” (Sawer, 2009, p. 99). Brado em claro acordo com o pensamento de seu precursor, o francês René Descartes e em oposição aberta ao dogmatismo religioso das “trevas medievais”. Mas o eco que se seguiu, porém, revelava outra realidade: a de que a própria dúvida fundamenta-se na crença.
Antes de prosseguirmos, se faz imperioso, como exame primeiro, definirmos dois termos: ‘crença’ e ‘dúvida’. Ambos serão considerados aqui em seu sentido mais largo, isto é, lato. Então, crença é todo ato do espírito de assentir firmemente a algo, sem que esse algo seja justificado racionalmente. Dito de maneira outra, é a aceitação da verdade de uma declaração, sem que haja comprovação racional e objetiva. Diversamente, dúvida é – e também em seu significado largo -, a “Incapacidade de determinar se algo é verdadeiro ou falso ou de decidir pró ou contra alguma coisa” (Japiassu[1] & Marcondes, 1996, p. 77).
Uma vez destacado o referencial dos termos crença e dúvida, poderemos, então, retomar a tese que já fora formulada: “toda dúvida apoia-se sobre uma estrutura de crença”. Exemplifiquemos. Se alguém assentir a declaração: “Eu duvido de P”, sendo ‘P’ qualquer coisa, como a declaração: “Eu duvido que haja verdade absoluta”; ou: “Eu duvido que haja um Deus”; e, ao se perguntar a esse alguém o porquê, as razões que sustentam a sua dúvida, a resposta que ele der revelará um conjunto de crenças que foram aceitas por ele sem justificação alguma. Crenças que foram tomadas sem que fossem examinadas, provadas racional e objetivamente, mas que foram assentidas quer consciente ou inconscientemente. Isso posto, “duvidar de alguma coisa é, ao mesmo tempo, acreditar em outra coisa” (Sawer, 2009, p.99).
Portanto, a ‘crença’, ou seu termo equivalente, ‘fé’, é fundamento da dúvida. E, parafraseando o teólogo James Sawer, o ato de duvidar não significa evitar crenças não comprovadas, uma vez que a própria dúvida se apoia em fé não comprovada (2009, p. 100). E acrescenta ele ainda em outro lugar: “toda dúvida tem uma estrutura fiduciária e está radicada num conjunto de compromissos de fé que, enquanto apoiarem a dúvida, não poderão eles mesmos ser postos em dúvida. O ramo sobre o qual cada dúvida se assenta é a fé” (Ibidem, p. 100).
Autor: Hugo de Albuquerque Silva
*Hugo é teólogo e pós-graduado em Ciências da Religião pelo Centro de Estudos Superiores de Maceió (Cesmac).
Fonte: Revista Filosofia
Notas
[1] – Hilton Ferreira Japiassú nasceu no Maranhão, em 1934. Licenciou-se em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), obteve doutorado em Filosofia, Epistemologia e História das Ciências pela Université des Sciences Sociales (Grenoble, França) e possui pós-doutorado em Filosofia pela Université des Sciencies Humanes (França). Professor adjunto de Filosofia e História das Ciências no Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Seu livro mais conhecido é O mito da neutralidade científica (Imago, 1976).
Referências
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. “Dicionário básico de filosofia”. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 1996, p. 77.
SAWER, M. James. “Uma introdução à teologia: das questões preliminares, da vocação e do labor teológico”. São Paulo: Editora Vida, 2009, p.99.

Preparando o 1 de Abril, a pergunta que não quer calar é: Se você tem crenças, você questiona as mesmas? Quais são suas verdades? E suas mentiras para si mesmo?

Você busca mudar seus pensamentos e crenças/crendices para encontrar outras crenças ou outras formas de ver aquilo como hoje é feito?

A gestão começa por encontrar caminhos diferentes daqueles que sempre deram certo ou deram parcialmente certo.

Tudo muda, nós mudamos, a sociedade muda. Porque as regras do seu negócio sempre permanecem as mesmas?

Quais crenças ou crendices precisam ser alteradas?

Por que não começar hoje?

Critique os procedimentos! Pense, treine, monitore a sua equipe das mudanças feitas.

Seja verbo e adjetivo, e não substantivo da mudança, do pensar e do ser alguém melhor todos os dias.

#PenseNisto

Sobre o autor:

Gustavo Rocha: Advogado Pós-Graduado em Direito Empresarial com mais de 10 anos de vivência no âmbito jurídico. Atuou como gerente de escritórios de advocacia por mais de 4 anos. Experiência nos estados do RS, SC, PR e SP. Presta exclusivamente consultoria nas áreas de gestão, tecnologia e qualidade para escritórios de advocacia, mantendo sua OAB atualizada como ferramenta de luta nos interesses da classe junto a OAB e Tribunais, através das comissões da OAB. Possui publicação em livro pela OAB/SC no livro OAB em Movimento, OAB editora, além de diversos artigos publicados em revistas e periódicos físicos e eletrônicos. Atua também como palestrante em diversos eventos nacionais e ministra treinamentos in company de gestão e tecnologia.

site: www.gestao.adv.br

e-mail: gustavo@gestao.adv.br

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