Em que medida as crianças e adolescentes têm sido preparados para lidar com este mundo?

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Bayard Galvão
Bayard Galvão

Estamos numa época de aumento de exigências na profissão, estética, sociabilidade e liderança. As razões para isso são inúmeras, mas a pergunta que não quer calar é: “Em que medida as crianças e adolescentes têm sido preparados para lidar com este mundo?”.

Um pacote atual de como educar crianças tem tido uma junção de ingredientes que, sozinhos, seriam quase inofensivos, mas juntos podem provocar péssimos efeitos não apenas para os filhos a longo prazo, mas também para os pais.

Ingredientes atuais da educação: aumento de elogios; diminuição de críticas; diminuição de exigências; poucas regras sobre aspectos simples do dia a dia, desde como tomar banho e pegar nos talheres, até quanto tempo pode jogar vídeo game ou tem que estudar; poucas punições perto da quantidade de infrações cometidas, como xingar os pais ou gritar apenas porque não ganhou o brinquedo que pediu; passar a responsabilidade da educação  para as escolas, ao mesmo  tempo que tira a autoridade delas, podendo deixá-las ou até processá-las caso a instituição puna a criança por um comportamento inadequado; proteger as crianças, inclusive daquilo que elas teriam condições de se protegerem sozinhas e ajudá-las nas lições de casa antes mesmo delas terem tentado com um mínimo de esforço.

Alguns agravantes dos ingredientes: os pais querem ser amados pelos filhos, e para isso, precisam fazer o que eles gostam, dizendo mais “sim” do que “não”; culpa pela ausência por excesso de trabalho, levando-os a não punirem a prole, pois estes já ficam pouco tempo juntos; e pressão  social para que os pais sejam politicamente corretos, fazendo uso  da fantasiosa postura de que as crianças sabem o  que é melhor para elas e que elas só precisam ser motivadas para atingir a felicidade.

Inúmeros efeitos dessas posturas e atitudes têm ocorrido, como: aumento  de dependência em relação aos pais,  pois os  filhos não aprender a “se virar” sozinhos; insegurança por não terem claro  o que são  capazes de fazer ou não, pois os seus pais fizeram “tudo” por eles; uma arrogância, que embora possa parecer paradoxal, é apenas a representação deles acharem que sabem tudo, tendo feito muito pouco  (embora isso não seja moderno, é mais frequente do que antes, devido  ao excesso  de elogios e poucos erros; querer receber “tudo na mão”, pois babás e outros acabam fazendo tudo pela criança; indisposição para se esforçar para qualquer coisa, pois tudo já chega sem esforço e por não ter que se esforçar, não aprendendo, assim, a lidar com fracassos e nem frustrações, desabando frente essas comuns realidades.

Efeitos de médio e longo prazo dessas consequências acima expostas podem culminar na sensação de não cumprir com o que deveria, como ter que estudar bastante e lidar com exigências da faculdade, gerando com facilidade mais inseguranças e insatisfações em relação a si; a ansiedade cresce por conta das pressões e exigências, tanto de si quanto de outros; a sensação, a longo prazo, lá pelos 21 anos, de não  estar conseguindo atingir objetivos  normais ou por não conseguir lidar com demandas de estágio ou trabalho, faz com que se sinta mais  inadequado ainda, facilitando tristezas constantes e ansiedades. Neste momento, pais costumam ficar preocupados com a possibilidade de exigir demais e criar um contexto de eventual suicídio, o que não  deixa  de ser algo que possa vir a ocorrer.

E tudo isso pode piorar com a entrada de drogas ou perda de condição financeira que mantem o status quo do padrão vivido, embora este último possa se mostrar uma alavanca para a mudança. Aqui fica fácil ser gerado um hábito do indivíduo de se apoiar no esforço dos outros, seja familiares ou cônjuge; facilitando inclusive a sensação de injustiça do mundo para com ele, pois ninguém percebe o valor que possui e o trata de acordo. Tudo isso pode acabar gerando um quadro psiquiátrico de distúrbio de ansiedade, depressão e/ou personalidade.

Quanto mais jovem for tratado alguém  que esteja neste caminho, menos difícil de serem superados eventuais problemas. Aqui, a prevenção, como de costume na medicina, costuma ser mais eficiente que a remediação.

Ideias que costumam dar certo na educação: que as crianças carreguem seus pesos em tudo que elas puderem, até podendo  receber mimos nos finais de semana, mas durante ela,  que cuidem do que forem capaz; não receber ajuda dos pais para estudar,  a menos que a criança já tenha tentado por um mínimo de 30 minutos sozinha resolver o  problema; punir as crianças segundo o nível das bobagens que elas fizerem , tirando  por um ou mais dias a fonte de prazer delas, seja o telefone celular, tablet ou sinal de internet; falar de maneira firme e leve sobre os deveres delas, até podendo explicar as funções de tomar banho, estudar ou não poder deixar a toalha molhada no banheiro, mas não  esperando  que elas concordem com as normas; dar presentes em datas esperadas e, vez ou outra, algo inesperado, mas não uma vez a cada duas semanas; a maior garantia de ser gostado pelo filho não é necessariamente dizer sim, mas mais importante: carinho, palavras de afeto e motivação, além de fazer coisas em que ambos tenham prazer.

Sobre o Autor:

Bayard Galvão é Psicólogo clínico, Hipnoterapeuta e Palestrante. Especialista em Psicoterapia Breve, Hipnoterapia e Psiconcologia, Bayard é autor de cinco livros e criador do conceito de Hipnoterapia Educativa. Ministra palestras, treinamentos e atendimentos individuais utilizando esses conceitos.

Site: www.hipnoterapia.com.br

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