A crise e os três passos para restaurar a perspicácia nas organizações

Dr. Martin Portner
Dr. Martin Portner

O ano de 2016 cresceu dentro da crise. É verdade que ela é de baixo impacto, sorrateira, mas danosa. Empregos foram perdidos, empresas fecharam e o horizonte reflete a angustia do futuro.

Nas empresas que sobrevivem, o ambiente é de incerteza. Nele, o indivíduo se torna menos comunicativo e, não raro, agressivo. A crise espanta o olhar claro, que busca a verdade do negócio de cada organização debaixo das aparências do mercado. Ideias entre colegas de trabalho colidem em vez de produzir brainstormings criativos. A produtividade está ameaçada.

Na crise, a espiral descendente ganha força natural. A criatividade é afastada e o escritório dá lugar à estagnação da energia cooperativa. Instala-se uma crise dentro da crise; os índices econômicos negativos da bolsa de valores e dos jornais saltam para dentro do conteúdo mental. Aqui, eles são captados por centros cerebrais especializados em abalos sísmicos.

Na mente, a incerteza é enxergada pela lente de uma emoção básica: o medo do amanhã. E quem cuida da organização do medo é uma pequena estrutura do cérebro que providencia três reações em cadeia.

Primeiro vem a perda de um recurso essencial para o dia a dia da vida. Ele se chama perspicácia. No dicionário Informal, o indivíduo perspicaz é definido como “bom observador; pessoa que analisa bem as coisas; que enxerga as coisas de maneira inteligente, acima do nível ordinário”. Mas para que essa qualidade esteja presente, todos os recursos da camada cerebral externa do cérebro, além de estruturas internas que recrutam aptidões emocionais, precisam estar focados no problema a ser enxergado. Prosseguir para soluções é uma segunda etapa; primeiro é preciso vê-las com clareza.

Embora a natureza tenha capacitado o cérebro para isso, nas situações em que o medo organizacional é instituído, a amígdala cerebral faz com que esses neurônios se tornem inacessíveis à análise de problemas. Interessa minimizar riscos.

Na esteira da perda da perspicácia, sobrevém o estado conhecido por “nervos a flor da pele”. O processamento emocional passa a utilizar recursos simples e as reações do indivíduo enveredam pela avenida chamada de “evitar comprometimentos a qualquer custo”.

O terceiro é uma mudança hormonal na economia interna para evitar uma recaída da “racionalidade”. Quando mais tempo esse estado de recursos cerebrais limitados perdura – raciocinam os neurônios amigdalianos – maior é a chance da sobrevivência em um ambiente hostil.

Dessa forma, a crise dentro da crise está estabelecida. A pergunta é: como se reverte essa cascata de eventos? Por onde começar?

A resposta pode parecer óbvia, mas é “pelo começo”. Pela restauração da perspicácia. Restaurando-a é possível salvar o emocional, o hormonal e o clima organizacional.

Se você deseja restaurar sua perspicácia organizacional, danificada pelo impacto da crise econômica de 2015-6, uma boa ideia será seguir os seguintes passos:

  1. Para reativar a perspicácia, a mente precisa ser ressetada no presente; isso ocorre quando ela é trazida cem por cento para o momento atual. Do contrário, a redução da qualidade de pensamentos vai prevalecer.
  2. Para logar no momento atual cria-se um by-pass inteligente para deixar a amígdala cerebral fora da operação. Essa técnica se chama presentação (a ação do presente), também conhecida por mindfulness. Para que este recurso funcione, a mente se conecta ao momento presente como se isso fosse uma tarefa, prestando atenção em algo que acontece de segundo a segundo no tempo presente, como a respiração.
  3. Esse exercício precisa ter a duração de alguns minutos; experts indicam que 20 minutos são ideais. Alguns exercícios são necessários para alcançar o reset com sucesso e a perspicácia volta a ocupar o lugar de centro das atividades mentais.

Pesquisas mostram que nesta situação neurônios distantes se interconectam velozmente produzindo um evento chamado de ritmo gama. Pessoas que alcançam esse estado são perspicazes em estágio avançado e desenvolvem a capacidade de enxergar algo surpreendente, invisível aos olhos dos demais, o “Ahá!” criativo (expressão cunhada pelo neurocientistas da Universidade Nothwestern dos EUA).

Um exemplo incrível provém da história da multiempreendedora e bilionária Sara Blakely, que começou sua carreira na área de vendas. Embora ela gostasse usar meias-calças em seu dia a dia, ela detestava o visual desta vestimenta com o uso de sandálias. Certo dia percebeu que poderia deixar dedos dos pés de fora removendo as extremidades da peça; ninguém havia percebido isso. Blakely acabou por instituir todo um novo design da roupa de baixo feminina. Essa pequena ideia migrou para um negócio que lhe rendeu milhões de dólares, tornando-a a bilionária feminina mais jovem do planeta em 2012.

Em conclusão, sucesso, “Ahás!” e dólares são como um trapiche construído sobre pilares de perspicácia em águas onde os demais pensam não haver navegação. Vale a pena começar por ela.

Sobre o Autor:

Dr. Martin Portner é Médico Neurologista , Mestre em Neurociência pela Universidade de Oxford e especialista em Mindfulness. Há mais de 30 anos divide suas habilidades entre atendimentos clínicos e palestras, treinamentos e workshops sobre sabedoria, criatividade e mindfulness.

Site: www.martinportner.com.br

* As ideias e opiniões expostas nos artigos e matérias publicados no Portal RHevista RH são de responsabilidade exclusiva de seus autores

linha

Compartilhar Este Post

Postar Comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.