As quatro habilidades necessárias para sobreviver em 2017

Dr. Martin Portner
Dr. Martin Portner

Dois mil e dezessete não será um ano fácil. Para mim, ele tomou a forma do touro de comportamento instável.

Imagine-se numa arena espanhola. No meio do círculo. O touro marcado com 2017 na testa sacode a cauda de um lado para outro, olhando fixamente nos seus olhos.

Se pudéssemos parar a câmera e perguntar que qualidades você gostaria de ter aqui e agora, o que você responderia?

Sim, força física, resistência e agilidade corporal. Mas trata-se de uma metáfora, então temos que expandir o horizonte.

Eu escolhi quatro. A capacidade de focar inteiramente no momento, o desprezo pelo risco presente, persistência inarredável para dominar o problema e ausência de qualquer ruminação mental (que me roubasse o foco).

Interessante. É o conjunto de qualidades que pode ser encontrado em sujeitos como espiões, meditadores e psicopatas. É a conclusão apresentada pelo autor Kevin Dutton em seu livro A Sabedoria dos Psicopatas: o que santos, espiões e serial killers têm para nos ensinar sobre o sucesso (tradução livre, Scientific American, 2012).

Nem todo psicopata é assassino, assim como nem todo assassino é psicopata. Podemos encontrar pessoas com mente psicopata trabalhando como advogados, cirurgiões, políticos e negociadores de sequestros.

  1. Foco

Psicopatas são focados no que vão fazer. Neles, a mente exclui fatores emocionais que agem como distração. Tudo é realizado no cognitivo. A ausência dos circuitos cerebrais responsáveis pelo sentimento da empatia faz com que eles não tenham sofrimento com o que vão causar aos outros.

Pessoas de estrutura mental normal tendem a perder o foco quando o cérebro detecta uma distração chegando. Um novo foco é criado. A amígdala cerebral, uma pequena estrutura no interior da massa cinzenta, possui a missão de avaliar o conteúdo emocional à nossa volta. É algo simples? O foco retorna. Mais complicado? A mente joga o foco fora como se fosse casca de banana e se prepara para uma mudança no estado interno do organismo. Para agirmos como psicopatas agem, precisamos cravar a atenção no assunto aqui e agora.

  1. Desprezo ao risco

Psicopatas são desprovidos de medo. Em uma situação de risco, eles são impassíveis. O que faz sentido, já que os circuitos internos da amígdala cerebral, estrutura que governa as reações internas e externas do medo, estão defeituosos. Por isso, desarmadores de bombas, dessas que ficam em maletas abandonadas em aeroportos, são agentes com esse perfil.

Mas o temor a uma situação de risco é difícil de evitar. Isso ocorre por que o feixe nervoso que controla a amígdala é como um anão tentando segurar um gigante. Os meditadores são capazes de desenvolver esse feixe; pesquisas recentes mostram que vinte minutos diários de meditação produz uma modificação confirmada por exames de imagem.

  1. Persistência

Persistir é prolongar o foco. Uma vez que o objetivo esteja estabelecido, a mente psicopata se volta a ele com facilidade incrível. Psicopatas possuem persuasão como nenhum vendedor, porque persistem na busca do seu objetivo.

No júri popular não é incomum ver advogados que defendem criminosos com absoluta convicção de sua inocência, desqualificando testemunhas uma após a outra e olhando nos olhos dos jurados para convencê-los a não cometer o equívoco da condenação. Eles não perdem o fio da meada nem por um instante.

  1. Afastar a ruminação mental

A amígdala cerebral, estrutura essencial para a sobrevivência, é também a origem de muitos males. Quando não estamos executando uma tarefa ou concentrados em nada, ela assume o comando da produção mental. “O que vou fazer amanhã?” conduz ao “bem, o mesmo lixo de ontem” e quando você vê a mente passa a pintar a vida com cores negativas.

Quando Kevin Dutton visitou o prisioneiro Leslie, psicopata encarcerado para o resto da vida na prisão psiquiátrica de Broadmore, ele disse que 99% das preocupações das pessoas “diferentes” dele são desnecessárias e não conduzem a nada. Isso está correto. E arrematou: “então, porque preocupar-se com elas”?

O ano de 2017 lhe olhará nos olhos como se estivesse perguntando “que ações você tem para mim? O que deseja fazer?”. Nessa hora, nada de aparecer com ruminações que não conduzem a lugar nenhum. Pense na única ideia – sim somente uma – que você gostaria de ver desenvolvida já no dia primeiro. Escreva-a. A cada tentação de procrastinar, puxe o papel do bolso – melhor, use o bloco de notas do celular – e releia sua ação número um.

Leslie disse a Dutton que não é que eles, psicopatas, sejam pessoas ruins. “É que nos temos muito de um conjunto precioso de qualidades”. Imagine.

O touro de 2017 estará esperando pelas qualidades do seu toureiro. E quais vão ser as suas?

Sobre o Autor:

Dr. Martin Portner é Médico Neurologista , Mestre em Neurociência pela Universidade de Oxford e especialista em Mindfulness. Há mais de 30 anos divide suas habilidades entre atendimentos clínicos e palestras, treinamentos e workshops sobre sabedoria, criatividade e mindfulness.

Site: www.martinportner.com.br

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