ZONA DE CONFORTO: O JARGÃO CORPORATIVO QUE FAZ SENTIDO

Andréa Guedes
Andréa Guedes

Escolhemos o mesmo sabor da pizza, o mesmo lanche, o mesmo lugar no sofá, o mesmo lado da cama. Geralmente almoçamos com as mesmas pessoas do trabalho e tomamos nosso cafezinho à tarde, no mesmo horário.

Fazemos isso porque nos acostumamos, nos sentimos seguros e confortáveis, mas precisamos tomar cuidado com algumas rotinas absolutas e com nossa resistência interna: o que nos deixa bem, não nos desafia.

Essas atitudes, mostram que estamos em nossa zona de conforto, termo esse que está cada vez mais em alta e virou um jargão corporativo e mesmo você não concordando, é importante dar atenção a ele, a não ser que seu objetivo de vida seja ficar estagnado. A escolha é individual e as consequências são a médio e longo prazo.

Talvez uma das melhores definições para zona de conforto seja: ela é o nosso pior conselheiro, maior inimigo e é o que causa mais danos a nossa personalidade.

ESTÁ DANDO…

A zona de conforto é quando você se sente estável, quando você acha que “chegou lá” ou o que está fazendo, “está dando”: o inglês que tenho não é muito bom, mas “está dando”, não terminei aquele curso, mas “está dando” para me virar, não entendo muito sobre os processos e procedimentos da empresa, mas o que sei, “está dando” para trabalhar.

O problema dessas questões, não é não saber 100% do inglês, do curso ou dos processos, o problema começa quando paramos no “está dando” e não queremos nos aperfeiçoar e nem aprender mais. Se você acha que chegou lá e não precisa fazer mais nada, automaticamente, passa a se perder.

É natural do ser humano buscar zonas de conforto em todos aspectos da vida e nós a procuramos a todo momento, mesmo porque, como o próprio nome diz, nos traz uma sensação de aconchego, segurança e conforto. No entanto, tudo o que não se renova está morrendo, toda relação que não está recebendo está se perdendo e isso acontece com nossa vida pessoal e profissional. Começamos a nos perder, quando achamos que chegamos no ponto estável ou quando achamos que já somos bons o bastante.

Num relacionamento, por exemplo, precisamos mudar e nos adaptar a todo momento: aquela pessoa que conhecemos há 1 ano, 3 anos ou 10 anos não é mais a mesma pessoa hoje. Nós não somos mais os mesmos e, portanto, precisamos sair da zona de conforto e nos renovar, se nosso objetivo é continuar com esse relacionamento. No trabalho, é a mesma coisa: as pessoas mudam, os processos se alteram e o mercado se renova, logo, em alguns momentos precisamos mudar também.

UM NAVIO ESTÁ SEGURO NO PORTO, MAS NÃO É PARA ISSO QUE OS NAVIOS FORAM FEITOS – William Shedd

O navio se desgasta, sofre danos, passa por tempestades e tem que ultrapassar grandes ondas, mas foi exatamente para isso que ele foi feito. O porto, é apenas um lugar que ele volta para se abastecer ou se recuperar.

Precisamos nos lançar esse desafio para não ficarmos amarrados ao porto, com nossos talentos, habilidades, sonhos e objetivos. Todos nós podemos melhorar, mesmo que em ritmos diferentes. O que nos impede de partir? A nossa zona de conforto! E como saber qual é? Será aquela em que você se sentir mais seguro, mais confortável e com menos riscos.

Que não tenhamos medo de falhar, medo de sermos avaliados negativamente, medo do que o outro irá pensar. São essas inseguranças que muitas vezes nos impedem de irmos além.

Seu emprego está ótimo e não precisa mudar? A interação com as pessoas do seu trabalho está boa e dá para levar? Seu relacionamento afetivo já chegou no patamar mais elevado?

Mesmo que as respostas acima sejam sim, precisamos sair da zona de conforto não somente para termos mais (cargos, salários, bens), embora isso seja relativamente importante e é o que nos sustenta, mas precisamos sair dela para sermos mais, para sermos melhores para nós mesmos e para os outros. Precisamos ser e não somente ter.

Inventamos pretextos e nos tornamos reféns de nós mesmos, portanto, não espere para depois: depois que se formar, depois que se casar, depois que tiver filhos, depois…você pode (e deve) ter um Plano B, mas não pode ter uma Vida B e mesmo que acredite que sim, você nunca saberá como virá e, portanto, as coisas boas temos que fazer agora, nessa vida mesmo.

Isso não significa que você tenha que mudar tudo a todo momento. Nem tudo tem que ser mudado. Também não significa que tenha que fazer uma mudança intensa e imediata. É necessário ter prudência na mudança para que ela não retroceda e o pior: volte a um estágio inferior a qual você estava.

Mas tenho certeza que você saberá exatamente qual é a zona de conforto que mais te limita, que mais te amedronta e a que não deixa você evoluir enquanto ser humano.

PENSAR FORA DA CAIXA: ANTES DE USAR ESSE TERMO, SAIBA O QUE ELE SIGNIFICA

Outro jargão corporativo e que está associado com a saída da zona de conforto, é o “pensar fora da caixa”. Embora eu entenda que seja de extrema importância, é necessário que não se banalize esse termo.

Recentemente, tive que passar por esse processo e pensar fora da caixa: estava acostumada a um ritmo de vida profissional, mas tive que pensar maneiras diferentes de como fazer o que eu já sabia fazer e isso faz com que eu tenha que pensar fora da caixa até hoje, quase que diariamente.

Mas o que me possibilitou fazer isso? Eu estava fora da situação anterior, estava vendo as coisas por outro ângulo. Se eu estivesse na mesma empresa, com o mesmo cargo, com os mesmos processos, eu estaria dentro da mesma caixa e dificilmente eu seguiria o caminho do empreendedorismo.

Muitas vezes estamos em um relacionamento afetivo conturbado, mas não sabemos como agir, por quê? Porque estamos inseridos nele a tal ponto que não conseguimos ver uma solução aparente. Por isso que temos um monte de amigos e parentes de fora que muitas vezes nos mostram a solução pois a visão deles é de fora da caixa, enquanto a nossa, é de dentro dela.

Hoje, o que você mais escuta dentro da empresa é que se tem que pensar fora da caixa, mas muito vezes, simplesmente “jogam” essa frase como se fosse uma varinha mágica e o fato de pronunciá-la já bastasse para se ter inovações.

Em uma de minhas consultorias com gestores, os mesmos foram unânimes em dizer que suas equipes deveriam pensar fora da caixa. Questionei como deveriam fazer isso e me disseram que precisavam trazer ideias novas. Perguntei como isso era possível e por algum momento houve um silêncio no grupo onde se entreolharam, mas sem saberem a resposta.

Não os julgo por não saberem, mesmo porque, receberam essa missão de seus gestores que receberam de seus líderes que receberam de outros, assim como eu já recebi também, no entanto, só identifica a caixa quem tem noção de sua exterioridade. Quem está vivenciando o processo, para ele, esse é o mundo.

A VIDA É MUITO CURTA PARA SER PEQUENA – Benjamim Disraeli

Para pensar fora da caixa, é necessário dominar um repertório alternativo, dominar outras referências sobre o mesmo assunto. É saber argumentar e mostrar outros posicionamentos baseados em fatos e dados. É de repente, ir contra um processo da empresa, mas mostrando os prós e os contras e qual é a melhor solução para trazer resultados superiores aos que já são realizados. É buscar questões além daquelas que estamos acostumados.

Para isso, é necessário um esforço de todos: seja estudando e buscando informações por conta própria, seja oferecendo treinamentos constantes, seja mostrando a necessidade das mudanças quando pertinentes. A empresa precisa de fato estar aberta a receber essas ideias e analisar o grau de relevância das mesmas, bem como os líderes precisam apoiar suas equipes em todo esse processo e, acima de tudo, estarem mais preparados para se verem fora da caixa e a cultivar em si mesmos a insatisfação positiva.

Precisamos ter cuidado com a satisfação por completo: livro bom, filme bom, resultado bom. É necessário que tenhamos a insatisfação positiva para sairmos da zona de conforto.

Permita-se! Permita-se sair de si, encontrar outra realidade. Permita-se ter admiração por algo novo. Permita-se se confrontar e mudar a si próprio quando necessário. É um processo muitas vezes lento, demorado e talvez doloroso, mas quem disse que mudar seria fácil? Talvez seja o preço que tenhamos que pagar por vivermos plenamente e não somente existirmos. A vida é muito curta para ser pequena.

Sobre a Autora:

Andréa Guedes, formada em Relações Públicas e Pós- Graduada em Gestão de Pessoas , 20 anos de atuação na área de atendimento ao cliente, sendo que os últimos 8 anos como Gestora de Atendimento em uma das mais importantes empresa multinacionais no segmento de Telecomunicação. Ganhadora em 2013 do Prêmio ABT e 2014 do Prêmio LATAM. Fundadora e executiva da TÁRIN Consultoria Empresarial.

Site: www.tarinconsultoria.com.br

Referências:

Leandro Karnal – Zona de Conforto:
https://www.youtube.com/watch?v=2M_URC5HuNs

Leandro Karnal – Careca de Saber:
https://www.youtube.com/watch?v=cvgZzin43G4&index=1&list=PLbdi7VShIWek_k1Gl8pZyKgmNlpDE3VJQ

Clóvis de Barros: Provocações Filosóficas
https://www.youtube.com/watch?v=JzUQ48preec

Lúcia Helena Galvão: Nova Acrópole:
https://www.youtube.com/watch?v=4gTG7l6Yd-A

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