Três ajustes simples para que o colaborador tímido seja bem sucedido na organização

Dr. Martin Portner

Estes ajustes na forma de trabalhar o colocarão em um patamar especial. Trata-se de operar com duas qualidades, como um camaleão – tímido no formato, extrovertido quando necessário. Organizações modernas desejam contar com esse tipo de colaborador. Os tímidos serão os talentos da era digital.

 Dr. Martin Portner

Se você é tímido, significa que seu filtro social é mais compacto. Quando as informações provenientes do ambiente (ruídos, pessoas que falam e gesticulam, mensagens com sentido oculto, mídias sociais) excedem a velocidade de passagem do filtro, você terá muito trabalho para classificar e armazenar tudo. O extrovertido, por sua vez, tem filtro poroso e lida com isso de forma fácil. Em contrapartida, o processamento final não é tão eficaz e resulta em uma associação menor entre ideias com pesos diferentes.

Pesquisas recentes revelam que esse filtro envolve um subterrâneo de corredores que articula mensagens entre os órgãos dos sentidos, o ritmo do coração e setores no cérebro que comparam o que é real e o que precisa ser interpretado. Tudo isso em segundos, no máximo.

No seu ambiente preferido – a solitude da noite, com seu notebook -, as estações de trabalho do introvertido operam com 100% de produtividade. A associação entre ideias se torna cristalina. Sacadas brotam da mente como gêiseres.

Um colaborador desta categoria no setor de planejamento estratégico, debruçado sobre a análise SWOT da organização, poderá visualizar uma oportunidade até então desperdiçada – uma espécie de salto com vara à frente da concorrência.

Contudo, tímidos podem perder espaço na arena da disputa interna. Extrovertidos arriscam mais em reuniões de brainstorming, no assessoramento da liderança, na motivação junto aos liderados e no posicionamento pessoal na vitrine da empresa.

Neste caso, tímidos precisarão recorrer ao estratagema da “extroversão de oportunidade”. Em síntese, o tímido se torna momentaneamente extrovertido. Nada exatamente fácil de conseguir, mas verossímil no viés da neurociência. Isso porque os andaimes do cérebro não são construídos de forma a permitir que extrovertidos sejam temporariamente tímidos. Não funcionará, mas o contrário é possível.

Mas como pode o tímido usar dessa “máquina de reversão”? Veja os três ajustes simples para que o colaborador de perfil tímido possa ser bem sucedido:

Remova a pressão

No tímido, o filtro interno é marcado pela rapidez com que uma situação é entendida como inconveniente. Tomemos a reunião de brainstorming. O tímido – e setores da neurociência – veem como improváveis as chances de ideias realmente eficazes surgirem nesse ambiente. Pesquisadores demonstraram que ideias tipo Ahá! são formadas pela associação de neurônios distantes entre si em um processo de concentração individual. Isso é acompanhado, na rede elétrica cerebral, do fenômeno conhecido por ritmo gama. Mas se o tímido adere ao brainstormng como um rascunho preliminar da ideia, colocando na sua voz o que vem pela via instintiva, há um notável começo. A retomada, mas adiante, na solitude, formará as paredes da ideia e permitirá alavancá-la como projeto.

Fortaleça as conexões intuitivas

Ideias baseadas no instinto são valiosas. Pesquisas revelaram que investidores que medem riscos não só pela balança racional, mas pelo que sentem internamente, obtêm resultados mais vantajosos. Uma forma de desenvolver essa escuta interior se dá pelo fortalecimento da percepção das operações do organismo em tempo real. Separe cinco minutos do dia e aprecie sua respiração. Desenvolva a capacidade de juntar-se mentalmente ao ritmo do coração. Essa capacidade interior, denominada interocepção, aproxima a distância entre o que acontece no corpo com os propósitos da mente. Extrovertidos têm boas ideias, mas elas estão apoiadas no que circula à volta. Tímidos podem juntar as duas coisas – o poder do racional com a força do intuitivo.

Deixe sua liderança transparecer

Uma noção errônea é a que introvertidos não são bons líderes. De acordo com pesquisa inovadora conduzida por Adam Grant, professor de Administração da Universidade Wharton, líderes introvertidos podem oferecer resultados melhores do que os extrovertidos porque eles permitem que funcionários talentosos exponham suas ideias, ao invés de imprimir o seu selo pessoal em tudo. Eles não são motivados pelo ego ou o desejo de destaque, mas pela dedicação ao objetivo maior do negócio. Personalidades com fortes traços introvertidos como Bill Gates, Barack Obama e Ayrton Senna imprimiram um estilo inconfundível de liderança.

Estes ajustes na forma de trabalhar o colocarão em um patamar especial. Trata-se de operar com duas qualidades, como um camaleão – tímido no formato, extrovertido quando necessário. Organizações modernas desejam contar com esse tipo de colaborador. Os tímidos serão os talentos da era digital.

Sobre o Autor:

Dr. Martin Portner é Médico Neurologista , Mestre em Neurociência pela Universidade de Oxford e especialista em Mindfulness. Há mais de 30 anos divide suas habilidades entre atendimentos clínicos e palestras, treinamentos e workshops sobre sabedoria, criatividade e mindfulness.

eMail: www.martinportner.com.br

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