Tempo não se acha: se cria

Floriano Serra
Floriano Serra

Dias atrás a imprensa divulgou que Dilma Rousseff, a presidente do Brasil, não perde um episódio da série Game of Thrones – e quando não pode assistir, grava os capítulos.

Apesar dessa introdução, não é minha intenção discutir aqui os hábitos televisivos da presidente, nem suas preferências na telinha. O motivo desta citação é outra.

Sempre achei que o “workaholic” é uma vítima de condicionamentos e crenças existenciais equivocadas, quando não um fugitivo da intimidade afetiva – mas isto é uma longa história cuja natureza não cabe no escopo deste artigo.

Quero apenas lembrar a todos que o ser humano se constitui de corpo, mente e espírito. Para se ter uma vida produtiva, saudável e feliz, é, portanto, preciso cuidar dessas três partes e mantê-las atuantes de forma motivada, atualizada e completa. A omissão de qualquer delas ou a fixação em uma delas causará consideráveis estragos na qualidade de vida do indivíduo e criará nele grandes limitações que o impedirão de desfrutar plenamente tudo o que a vida lhe proporciona. Em outras palavras, a necessidade do tão falado equilíbrio entre vida pessoal, profissional e espiritual não é balela nem conversa fiada de psicólogo.

Fico espantado com a quantidade de profissionais que encontro em eventos corporativos e que, em conversas informais, afirmam que não sabem contar piadas, não sabem a letra de nenhuma música, não vão a cinema e teatro, não lêem livros e revistas e não assistem a séries de TV. E por quê? Porque, segundo alegam, não têm tempo para isso! Todo o tempo deles é dedicado ao trabalho. A empresa agradece, mas certamente a família e os amigos, não. Muito menos seu próprio tripé de corpo, mente e espírito que vive sob o sobressalto do estresse se aproximando a cada dia, prestes a transformar-se em “burnout”. Muitos desses profissionais estão perdendo os melhores anos da vida dos seus filhos e os melhores momentos da sua relação afetiva. E deixando de lado parentes e amigos queridos. Sem falar de Deus – felizmente, de todos o mais tolerante e paciente.

Pois saiba, caro amigo “workaholic”, que enquanto você está fazendo serão ou esticando seu expediente de trabalho muito além do necessário, a presidente da República do Brasil, aquela que tem muito mais metas, funcionários, clientes e responsabilidades que você, está curtindo tranquilamente, à noite, uma interessante série de aventuras na TV. Provavelmente cercada de familiares e amigos – e é quase certo que sem faltar a pipoca. Tempo não se acha, se cria – desde que haja flexibilidade, interesse e motivação para isso. E sem a necessidade de complicados e confusos gráficos de controles e planejamento – basta o bom senso.

Portanto, prezado “workaholic”, tudo o que posso recomendar é: ou procure ajuda profissional de um psicoterapeuta ou de um “coach”, ou siga em frente. Para isso existe o livre arbítrio.

Sobre o autor:

Floriano Serra é psicólogo, consultor, palestrante e facilitador de seminários comportamentais. É diretor-executivo da SOMMA4 Gestão de Pessoas, autor de vários livros e inúmeros artigos sobre o comportamento humano. Ex-diretor de RH de empresas nacionais e multinacionais.

e-mail: florianoserra@terra.com.br

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20 Respostas para "Tempo não se acha: se cria"

  1. Renata Nogueira · Editar

    Não há como não concordar com cada palavra acima, as pessoas tendem a se condicionar de uma forma que não conseguem mais enxergar outras possibilidades em suas vidas. “O tempo é agente que cria,” é uma verdade e ao mesmo tempo uma ideologia para muitos. Ainda bem que temos pessoas inteligentes que se dão tempo para compartilhar de seu conhecimento e suas reflexões.

  2. Elisabeth Duarte · Editar

    Brilhante matéria. Concordo com os pontos abordados pelo Sr. Floriano, afinal de contas, faz parte da prestação e qualidade do nosso trabalho este tipo de atitude, ou seja, um tempo para a família, amigos e hobbies mesmo que pareça utopia. Tudo que é excesso vira doença.

  3. Waldemir Gomes Rocha da Silva · Editar

    apesar de o artigo ser bom, o tema do “tempo que preciso”, como toda a jogada de auto ajuda, melhorar desempenho profissional e pessoal,etc.. é muito bonito e funciona se for utilizado para despertar a necessidade de se administrar o tempo. Quando nos entusiasmamos com esse tal tempo criado e enchemos o peito pra mostrar que temos tudo sob controle, acabamos criando um mostrinho que nem sempre vai caber nas 24 horas.

    Na prática o que devemos pensar é que tudo o que se faz na vida deve ser considerado no seu tempo, considerando o seu memlhor empenho, sem divagaç~eos etc.. e boa. Se deu deu se não deu pavão. Caso contrário logo voce estará escravizado pelas obrigações que voce criou e o pior é que não poderá reclamar, porque foi voce que inventou a bagaça. Por que isso? Porque quando formatamos as atividades a serem cumpridas num determinado “tempo”, não sonsideramos os desdobramentos e questionamentos gerados por outras pessoas em todo o contexto do tempo. Aí a teoria pode se perder.

  4. O tempo é algo tão fantástico que é estudado pelos Indus, árabes, etc.. ha milhares de anos. A física quântica, ajudada pela tecnologia atual estuda a interação não linear entre tempo e espaço, e muito já se aceita que o tempo pode ser alterado pela energia em movimento…isso é outra coisa que nos deixa filosofando: se o tempo não é necessáriamente linear, também não é necessariamente monodimensional, logo se não é assim, podemos moldá-lo conforme nossos critérios de escolha (psíquicos). Quem trabalha elém da necessidade, está na verdade fazendo mal uso da escolha do tempo, pois apenas a dimensão trabalho está sendo valorizada. O tempo é uma inveção humana, uma referência. Logo, pouco, muito ou nada de tempo é apenas uma opção de escolha…escolha ter muito tempo Distribua o tempo em dimensões, e mais “rico” ficará. Eu trabalho o necessário para cumprir minha metas profissionais, trabalho também para atingir metas sociais, culturais e espirituais…

    O Tempo não esta do lado de fora, no relógio, está em nossas mentes. Um abraço á todos!!

  5. O velho Einstein já tinha dito, num dos pontos da sua Teoria da Relatividade, que se dois gêmeos forem submetidos a um certo experimento o tempo passará de forma diferente para ambos. 

    Quanto a mim acho que o tempo é um insumo importante e um recurso super escasso nos nossos dias de muitas informações jogadas e pouca análise e atuação coerente. 

    Como diz um de meus líderes espirituais, Dr. Deming, não basta apenas fazer o seu melhor,é preciso antes saber o que fazer.

    Se cuidamos apenas de alguns dos canteiros de nossas vidas o que será das plantinhas desprezadas?

    Dos nossos outros talentos que não forem cultivados?
     Abraços,

  6. JOEL DO GRUPO PUOSSO PEREIRA · Editar

    Agradeço por terem postado meu comentário.
    Obrigado à equipe
    Joel Gomes Pereira

  7. Srs
    Estou copiando e postando aqui um comentário feito no forum Linkedin.
    O João fez um belíssimo comentário lá, sobre que tempo não se cria mas se planeja.
    Vale a pena ler. Pena que não tenho autorização para transcrevê-lo aqui. Mas acho que minha resposta dá para compreender assim mesmo.
    Divirtam-se com o tempo. Eu me divirto há muito tempo. kkkk.
    O véio.

    Olá João Concordo c o que vc disse. Mas acho q há uma questão de significado das palavras, no meio. Não se trata de criar nem administrar tempo mas administrar com criatividade. Acho que estamos usando as duas palavras como sinônimos. 
    Quando eu era mais jovem (pois ainda sou), fui encarregado de elaborar relatório anual do Sistema FIEMG. Gastavam-se tres meses, com vinte pessoas e centenas de recursos e horas extras. E tumultuava a vida de todas as divisões de serviço, que paralisavam trabalhos para montar estatísticas e análises. No terceiro ano, gastamos cinco pessoas, 1 mes, sem nenhum recurso/hora extra. Virou rotina. 
    Mais tarde, fui fazer um seminário com estas técnicas empacotadas para executivos. O Managerial Grid, que ainda roda por aí até hoje. Diziam que era para stressar executivos pois as turmas competiam entre si e com estatísticas nacionais e internacionais. Foi no grande hotel de Araxá. 
    Meu grupo começou em último lugar e todos queriam trabalhar à noite. Fui contra e ainda arrumei um jeito de frequentar 1/2 hora de piscina no intervalo do almoço. Teminamos a semana e o curso em primeiro lugar em desempenho. 
    Nesta época criei um fluxo de t&M para gastar dez minutos entre a cama e o carro na garagem, com banho e café tomados, terno e gravata. Só para dormir e acordar meia hora mais tarde. Claro q ficava estressante todo dia, mas usava nas horas de maior aperto no trabalho ou gandaias noturnas. 
    Todas as técnicas pertinentes estão descritas em meu livro Casos em Administração e outros textos mais. Tudo era planejado, mas criar é preciso. Abraços. E boa discussão. 
    Ps. Moça bonita em sua foto. Parabéns Não deixe escapar. Rs.

  8. JOEL DO GRUPO PUOSSO PEREIRA · Editar

    Eu li atentamente todos os belíssimos comentários feitos pelos colegas e confesso que fiquei até orgulhoso de saber como tem gente de cabeça feita como dizem os jovens,pessoas que estudiosas que pensam em como usar bem o tempo,a fim de serem pessoas que façam a diferença,não só para sí mesmas ou para seu filhos,quissar,para toda a raça humana.
    Quando falo em raça humana,não pretendo exagerar nem ser poeta.
    É que o assunto em pauta é o TEMPO;E como precisamos de tempo,sim,tempo,não estou falando só de (24)horas.
    Não gostaria de entrar em um campo filosófico,mas sim,permanecer no campo científico.
    Por que pessoas inteligentes que podem com razoabilidade fazer comentários como todos voces fizeram e terem a renovação de suas células travadas,cortadas podendo viver mais ou menos 70 ou 80 anos?
    TALVEZ  ESTA DÚVIDA,AINDA RESPONDIDA SOMENTE FILOSÓFICAMENTE,É QUE NOS CAUSE TODO ESSE ESTRESSE DO TEMPO.
    O QUE NOSSA MENTE TEM PODER PARA REALIZAR,TEMPO NENHUM,ADMINISTRADO OU NÃO ADMINISTRADO VAI NOS PERMITIR REALIZAR.
    A COISA É UM POUCO MAIS COMPLICADA.
    O que nos resta por enquanto,é fazer de conta que a gente já sabe,aquilo que estando tentando aprender.

  9. Paulo Cervelini Neto · Editar

    Muito bom o artigo. E é uma verdade que muitos não admitem, pois estão com a cabeça no trabalho, com diversos problemas, coisas a fim para fazer e não param para ver o que estão perdendo ou se negando a fazer por causa do dia a dia do trabalho. Um professor me falou uma vez que saber valer o tempo que tem é uma virtude. A cada dia que passa, mais e mais coisas vão aparecendo, forçando todos a se desgastarem por causa da competitividade que existe. E nesse tempo de correria é que temos que ver o lado pessoal e pensar em um pouco de qualidade de vida. Claro que trabalha na mesma cidade ou estar próximo do que se faz é uma dádiva, pois sobra tempo. Mas o difícil é o que fazer com este tempo que sobra. E nessas horas, muitos o jogam fora. Eu admito que muitas vezes acabo desperdiçando meu tempo e agora com faculdade, TCC em vista e procura de emprego ou cursos de aperfeiçoamento, o dia muitas vezes deveria ter mais do que 24 horas. Mas é questão de saber dosar aquilo que tem, sem perder o foco da meta de cada um e a chance de aproveitar os momentos que aparecem, afinal de contas, ninguém está aqui por nada, então o ideal é aproveitar a vida e não simplesmente passar por ela.

  10. Andréa Dessaune Machado · Editar

    Pensando no que estão falando me vem a questão da qualidade de vida e quem mais estudou a respeito foi Maslow com sua teoria das necessidades humanas: De acordo com Maslow, as necessidades fisiológicas constituem a sobrevivência do indivíduo e a preservação da espécie: alimentação, sono, repouso, abrigo, etc. As necessidades de segurança constituem a busca de proteção contra a ameaça ou privação, a fuga e o perigo. As necessidades sociais incluem a necessidade de associação, de participação, de aceitação por parte dos companheiros, de troca de amizade, de afeto e amor. A necessidade de estima envolvem a auto apreciação, a autoconfiança, a necessidade de aprovação social e de respeito, de status, prestígio e consideração, além de desejo de força e de adequação, de confiança perante o mundo, independência e autonomia. As necessidades de auto realização são as mais elevadas, de cada pessoa realizar o seu próprio potencial e de auto desenvolver-se continuamente. Dito isto me parece que o equlíbrio seria a melhor forma de adquirir uma qualidade de vida que nos satisfaça a longo prazo. Nesse equilíbrio também estamos falando do tempo e como o utilizamos!

  11. Trabalhar é preciso, mas cuidar da saúde mental sua e de sua família é mais importante. São as melhores metas, se não podes administrar bem seu tempo, e sua família como gerir bem a empresa que trabalha ou seus colaboradores? A tempo para tudo na vida, tempo para rir, para chorar, para se divertir, e trabalhar. Desopilar as vezes é bem mais produtivo pois te da oportunidade de observar aspectos que você não veria na pressão do dia-a-dia do trabalho.

  12. Bruna Oliveira · Editar

    Caro Floriano,
    Ótimo artigo!
    No meu caso, foi preciso a busca de análise terapêutica para deixar de viver para o trabalho e entender que a vida é simples.
    Somos felizes com a simplicidade e tudo se resolve quando nós mesmos não complicamos a nossa vida.
    Textos como o seu só complementam a minha terapia e demonstram o sucesso que ela representa para o meu bem estar.
    Obrigada.

  13. Artigo perfeito. Eu conheço gente que, até não tendo muito o que fazer, complica as obrigações para gastar mais tempo e ter a sensação de estar sempre ocupado. Demandado por todos. Em alguns cursos sobre programação do tempo, costumava afirmar que pedir urgência não significa que precisa ser muito rápido mas que, quem está pedindo tem mais poder do que você ou do que os outros demandantes. 
    Eu tenho a vida pressionada por demandas que eventualmente me tomam 16 horas diárias. E já tive períodos de tres expedientes, incluindo fim de semana. Mas não perco a oportunidade e o objetivo de ficar à toa. Vagabundando. rs. 
    Continue escrevendo e dando estas boas dicas.

  14. A abordagem foi excelente e indicou questões importantes implicadas na administração do tempo e que merecem toda a nossa atenção.
    Vejo por minha experiência e dificuldades que:
    A primeira dificuldade é uma questão de tomada de consciência sobre como utilizamos o nosso tempo;
    A segunda dificuldade (tão difícil quanto a primeira) é tomar Atitudes para mudar a forma como utilizamos -quantitativa e qualitativamente, o nosso tempo;
    A terceira dificuldade é tomar uma decisão de procurar ajuda profissional quando necessário;
    A quarta dificuldade é adotar uma metodologia de gestão do tempo (o que parece não fazer parte da cultura brasileira).

  15. Rui Duarte Mendonça Freitas · Editar

    Me desculpem os de opinião contrária, mas estou cada vez mais arredio a “curas milagrosas”, “livros de auto-ajuda” e outras formas de se alienar da realidade. Acredito que encarar as situações de maneira realística é mais prático e não nos deixa com a impressão que somos os únicos a não alcançar o sucesso, afinal, via de regra, “alguns” conseguem e “outros”não e não há motivo para lamentações, faz parte da vida. Só não devemos deixar de continuar tentando. Retornando ao assunto, tempo NÂO se CRIA e muito menos se ACHA, o dia continuará impassível nas suas 24 horas contrariando todas as milagrosas fórmulas propostas por gurus e outros seres. TEMPO se ADMINISTRA, fazendo com as ações mais importantes sejam priorizadas, simples assim.

  16. Juliana Bertoletti · Editar

    Realmente Humberto, muitas vezes somos levados pela pressão de ‘produzir’, deixando de avaliar a real necessidade, relevância e SENTIDO das nossas ações, tanto na vida pessoal quanto profissional. Usar o tempo a nosso favor inclui a reflexão antes da ação: assim ganharemos não somente mais tempo, mas mais qualidade de vida.
    Abraço a todos!

  17. Humberto Freire de Carvalho · Editar

    Concordo, depois de muito tempo perdido em minha vida, fiz um quadro para meu escritório: “SIMPLIFIQUE, NÃO COMPLIQUE”, pensando em quanta coisa fazemos que na verdade são coisas que não precisam ser feitas, parece que temos uma certa satisfação em “fazer” algo, em estar fazendo algo.
    Quando “pensamos” em fazer algo, temos um certo “prazer” de “realizar” rapidamente o pensamento e nos “ocuparmos”; se pudéssemos refletir antes de fazer qualquer atividade, provavelmente metade não faríamos ou faríamos de maneira mais simples.
    Um grande abraço a todos.

  18. Jaime Zell de Sousa · Editar

    Floriano, muito bom, como exemplo, fui um “workaholic”, tanto que meu 1º casamento foi para o espaço, hoje mudei aproveito muito mais trabalhando bem o tripé, até filhos tenho no segundo relacionamento e o principal eu os acompanho.

  19. Adriana Vazzoler Mendonça · Editar

    Prezados, este assunto é muito apropriado e podemos ajudar a um grande número de pessoas que acreditam que têm que arrumar tempo ou criar tempo. Tempo é uma dimensão que não é gerenciável, não é administrável, não é criável. Não se arruma tempo, não se dá tempo, tempo não é algo de se ter. O tempo só tem uma função: passar. Ele passa a despeito de qualquer coisa que façamos. Todos nós temos somente 24 horas por dia. A única coisa que podemos fazer diante dessa realidade é escolher o que fazer nessas 24 horas. Escolher é priorizar. Fazemos o que é mais importante segundo nossos valores pessoais. Em alguns momentos essas escolhas podem não ser as melhores para quem está perto de nós: família, gestores, clientes, amigos. Daí vem a cobrança direta ou indireta deles ou nossa, interna, na forma de culpa, frustração, sensação de incompetência, de fracasso. Mas não há meios de se criar ou arrumar mais tempo. Só nos cabe desenvolver mais sabedoria para priorizar as 24 horas de forma que tenhamos melhores resultados.

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