A Tolerância no Limite

Cristina Piton
Cristina Piton

Não é de se estranhar que as pessoas chegam em suas casas, após um exaustivo dia de trabalho, plenamente azedadas. Ocorre que nem sempre o cansaço se dá pelo trabalho em si.

Vamos dar um repasse no dia-a-dia das pessoas na ótica de observadores. Acordamos cedo para dar conta de cuidados pessoais e atender a todas as exigências organizacionais.

Tem que se barbear ou se maquiar, afinal estar bem apresentado é parte do sucesso profissional. Mas juntamente com o asseio pessoal, temos que levar os filhos na escola para que seu papel de pai ou mãe fique no patamar mínimo de exigência, já que se passará o dia todo sem a família. A culpa caminha junto com a rotina.

Ir de carro pode ser confortável, sentado e com ar condicionado ligado e ainda podendo beliscar o pacote de biscoitos e forrar o estômago até o horário de almoço, que se tudo der certo, correrá normalmente. Mas esta tranquilidade será neutralizada se você ao seguir caminho lembrar-se que é o dia da placa e naquele dia só pode rodar antes das 7hs ou depois das 10hs..Meio complicado para quem entra as 9hs. Ir de táxi, tomar um ônibus e ir esmagado até o ponto de descida, ou optar por desembolsar R$ 83,00 da multa já que o táxi ficaria mais caro. Pontos na carteira de motorista, mas o conforto garantido e o risco calculado. Desvia de um motoqueiro, que já na semana passada levou seu retrovisor ou até amassou a lataria, para no sinal umas mil vezes até chegar ao trabalho, se livra de vendedores ambulantes, fecha o vidro para driblar da fumaça dos caminhões e ônibus, afinal o asseio é premissa de sucesso lembra?

Claro que, lembrando você mora 15 km da empresa, mas a quantidade de carros nas ruas é tamanha que demora em média uma hora para chegar ao destino. Bem, estaciona aqui, liga o alarme, verifica se as janelas foram fechadas, afinal chuva pouca é bobagem e lá vamos nós ao ritual diário. Mais um pouquinho de paciência, já chega a sua vez de entrar no elevador, afinal tem elevadores para andares pares e ímpares e em um determinado andar tem um call center onde existem turnos e sobem em média 300 atendentes em cada um deles…Afinal estamos na era da comunicação virtual e este cenário já faz parte , não é mesmo?

Chegou, entra na empresa, rotininha básica de cumprimentar todos, com um largo sorriso é claro, afinal mal começou o dia para estar de mau humor e se estiver já é distimia. Ops, já ia me esquecendo, bater o cartão de ponto, um café para dar o start sublimado e vamos aos e-mails, limpar a caixa, ver o que serve ou não, responder rapidamente aos urgentes, se livrar das pendências do dia anterior, afinal aquela reunião que durou 3 horas e cá entre nós, podia ter durado 30 minutos que já tinha batido o limite. Oba, hoje é dia de pagamento e na hora do almoço dar uma passadinha básica no banco e comer em 15 minutos, afinal nem todos os dias temos uma bolada na conta…Chegar ao banco e se lembrar que aquele boleto sem código de barras da Prefeitura só pode pagar na boca do caixa , afinal é calculado em SDA e para minha infelicidade não faço a menor idéia de qual é o valor disso aí… Minutos para chegar até lá, minutos para conseguir passar na porta giratória, tira daqui, tira dali, se expõe um bocadinho e lá dentro estou eu….uff…Puxa, mas tem 8 pessoas na fila e somente um caixa…mas afinal tenho que pagar o bendito boleto que a multa é brava!! Tudo bem, comer um lanche mesmo, afinal se está gordinho e comer um lanchinho de vez em quando não faz mal a ninguém. Nossa, está faltando apenas 15 minutos para acabar o horário de almoço, e ainda tem duas pessoas na frente , mas vamos lá..Brasileiro sempre diz: já que estou aqui, vamos aguardar..Um pouco já impaciente, batendo os pés no chão, apertando o click da caneta sem parar ou até alternando as pernas de um lado para o outro, afinal pode dar cãimbra…ainda bem que aqui tem ar-condicionado, com o calor que está lá fora, até que não está ruim.

A impressora rola rapidamente e o boleto está pago, só faltam mais duas parcelas que me livro disso aqui…Dá uma passadinha rápida na padoca e compra um croissant com refrigerante e vai comendo pelo caminho, afinal tem que bater o cartão na volta. Mais uns minutinhos no elevador e lá estou eu… Três reuniões à tarde para discutir algumas ações, voltar à mesa e responder mais e-mails, dar um feedback para o colaborador que tem tido algumas ocorrências indevidas, ligar para o dentista e agendar um orçamento pois o dente está doendo desde a semana retrasada e ainda não deu tempo para marcar. Espiar o almoxarifado e fazer uma lista de materiais de compra e se der tempo, listar as férias de todo o departamento pois o Rh me deu um prazo de 3 dias para incluir no cronograma geral. Tem cinco ligações perdidas no celular, afinal no banco, o mesmo não pode mais ser atendido devido á nova lei.

Hoje ainda é segunda, tem que sair no horário porque a escola das crianças fecha as 19hs e não pode se atrasar. Mais congestionamento, as pessoas parecem loucas para chegar em casa e dar uma relaxada, afinal sair as 18hs e chegar as 20hs é normal. Bem, ainda tem que ver a agenda dos filhos, corrigir as tarefas, ouvir o que eles tem para contar do dia na escola, sondar os amigos que estão convivendo, ajudar no banho, dar o jantar, fazer a oração de proteção com eles, preparar a mala do dia seguinte, afinal muda o tempo todo a rotina deles, aula de judô, aula de natação aula de inglês, aula de música, enfim….básico..

Pai, vamos brincar de lutinha? O meu amigo ganhou de mim na aula de judô hoje! Filho, o papai precisa tomar banho, preciso jantar pois afinal meu almoço foi um lanchinho e ainda tenho que fazer um relatório que faltou e tenho que entregar logo cedo. Pai, boa noite? Boa noite filho, dorme com Deus e cai desmaiado no sofá sem ao menos tomar banho e jantar. Relatório? Nem pensar, tô exausto!!!

 

Sobre a autora:

Cristina Piton Consultora há mais de 16 anos em Gestão Humana e Qualidade Total. Graduada em Educação Física pela FEFISA, pós graduada pela USP em Neurofisiologia Cardiovascular, Jornalista graduada pela FIAM. Atuação em treinamentos e palestras voltadas à gestão humana, expertise em assessoria geral de Call e Contact centers. Formou-se  na Fundação Getúlio Vargas em diversos temas voltados ao comportamento humano e é sócia diretora da CP ONE INTELIGÊNCIA EM TALENTOS HUMANOS.

site: www.cpone.com.br   

email: cristinapiton@cpone.com.br

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