Antes de dizer “sim”, conheça o estilo do seu novo chefe

Gladis Costa
Gladis Costa

Dicas para entrar na empresa com o pé direito.

O momento mais esperado num processo de seleção é ser chamado para conhecer seu futuro chefe, aquela pessoa com quem você vai conviver diariamente, interagir, ser parte de sua equipe.  As decisões foram tomadas e aparentemente você é o “cara”. Vai começar uma nova fase de sua carreira, um novo momento profissional, mais um degrau em sua escalada rumo a uma carreira consolidada – ou em vias de. Mas algumas decisões dependem de você, outras não. Você já negociou as condições, chegou a alguns acordos e tudo parece que correu às mil maravilhas. Passar por todas as entrevistas necessárias e ser chamado para ocupar um cargo pode ser uma ótima notícia, mas o que acontece quando você percebe que, bem o trabalho é tudo o que você queria na vida, já seu futuro chefe, nem tanto…?

Um exemplo interessante é o trazido por JP, vamos chamá-lo assim. JP está enfrentando uma situação muito complicada em seu emprego. Ele conta: “Trabalho numa empresa pequena. Das oito posições, seis são novos funcionários, com menos de seis meses de casa. Cinco destas posições foram abertas porque os funcionários saíram da empresa. Nos primeiros meses, fomos bem tratados pela nossa gerente. Depois disso, ela resolveu mostrar sua real personalidade. Às vezes, ela entra silenciosamente em nossa sala para ouvir nossa conversa. Sempre questiona nossas decisões e quer tudo do jeito dela, o que significa que será o “jeito certo” de fazer as coisas. Pior, ela quer que o escritório fique silencioso por duas horas todos os dias. Ninguém pode conversar durante este tempo. Ninguém gosta desta política porque atrapalha nosso trabalho se precisamos de qualquer ajuda, já que ninguém pode “perturbar” o outro. Ela não liga. Se você for pego conversando com outra pessoa no escritório ela vai com certeza lançar seu olhar ameaçador. Ela tenta nos manter o máximo possível isolados uns dos outros. Decididamente, ela não gosta de comunicação.

Se faço alguma coisa errada, ela não vai me chamar a atenção, vai comentar o fato com outra pessoa no escritório. Na frente de visitas, ela até nos trata bem, mas só neste momento. Ela já teve treze assistentes até ficar com esta equipe que tem hoje. Os funcionários que saíram da empresa comentaram que tiveram que sair em função da maneira como ela os tratava e também porque ela tinha expectativas não muito realistas sobre eles. Por outro lado, o Diretor também não a confronta, não importa o que aconteça. Ele está do lado dela em qualquer circunstância, o que não ajuda em nada.

Agora, cinco de nós estão em busca de novos empregos. Pergunto: Há algo que possa ser feito ou temos mesmo que sair? Será que existe um jeito de descobrir qual é a política de uma empresa antes de começarmos a trabalhar? O que podemos perguntar durante as entrevistas para descobrir isto? Será que é correto tentar falar com os funcionários desta empresa antes de batermos o martelo?”

Perguntas difíceis sem dúvida, mas infelizmente, são mais comuns do que imaginamos. É deprimente imaginar o que é trabalhar num lugar desses. Onde está a ética desta empresa? Morreu? Esta gerente é um clássico exemplo do estilo “comando e controle”, uma prática que já deveria estar no Museu da Administração. Duas horas diárias de “silêncio total”? Ela com certeza é uma séria candidata a ganhar o troféu “Chefe do Inferno”. Fora, questões ligadas a assédio moral.

O que é particularmente lastimável é que ela orquestra o show da maneira como bem entender. É como aqueles pais que emocionalmente abusam de seus filhos, fazendo o papel de “pais dedicados e amorosos” na frente de outras pessoas, mas quando a visita vira as costas, transformam-se em verdadeiros vampiros emocionais. São controladores, cruéis, insensíveis.

O pior é que ela cria e justifica sua própria profecia. Através do supercontrole, falando mal dos funcionários pelas costas e questionando cada movimento, ela acaba criando uma situação onde os funcionários se ressentem e juntam forças contra ela. Quando ela “acidentalmente” descobre estes sentimentos, ainda reclama: -“Viu? Não falei? Não dá para confiar nestes funcionários. Tenho mais é que controlar tudo mesmo”.

Caro JP, durante as entrevistas é perfeitamente aceitável, sim, pedir ao recrutador para descrever o tipo de gerência adotado pela empresa. Também é justo perguntar qual é o turn-over da área. Questões pertinentes podem inclur “Por que vocês não contratam alguém da própria empresa para este cargo?” Ou “O que aconteceu com a pessoa que ocupava esta posição?” “Por que eles saíram?” Naturalmente, tudo deve ser feito de forma sutil e de forma a parecer mais curiosidade do que realmente desconfiança.

Um bom gerente não deve se sentir ameaçado por alguém querer conversar com os funcionários ou colegas de trabalho da nova empresa. Se você é o finalista para a vaga, você pode até dizer “Nós dois temos muito a perder se eu não for o candidato adequado. Agora, para que eu possa tomar uma decisão acertada, você vê algum  problema em  que eu converse antes com as pessoas com as quais eu eu vou interagir?

Desta forma, a gente pode avaliar se sou uma boa aquisição para a empresa ou não.”

Se o gerente olhar você com desconfiança ou se você perceber uma atitude defensiva, é melhor pensar duas vezes. Este definitivamente não é seu próximo local de trabalho.

 

Sobre a autora:

Gladis Costa, Gerente de Marketing e Comunicação da PTC para a América Latina. A PTC é  líder no segmento de soluções para o gerenciamento do ciclo de vida do produto. Em março de 2009 criou o grupo “Mulheres de Negócios”, maior rede feminina de negócios do portal LinkedIn com mais de 1000 associados. Regularmente publica artigos sobre marketing, serviços, varejo, carreira e cultura. Tem mais de 20 anos de experiência na área de Marketing e Comunicação. Foi  gerente de marketing da Sun Microsystems durante 11 anos e lecionou Inglês na Universidade Ibirapuera por 12 anos. Trabalhou como Gerente de Marketing do HDI – Help Desk Institute, maior associação de profissionais do mercado de help desk do mundo. É formada em Letras, com pós-graduação em Jornalismo, Comunicação Social e especialização em Tecnologia e Negócios pela PUC-SP. Em 2005 lançou seu primeiro livro de crônicas, “O homem que entendia as Mulheres”. É professora no curso de graduação em Gestão de Tecnologia  na Faculdade Sumaré, em São Paulo.

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