Quem Seria Capaz de Fazer o que Steve Jobs Faria?

Jerônimo Mendes
Jerônimo Mendes

Faz exatamente um ano que Steve Jobs deixou a vida para entrar em definitivo na história da tecnologia e do empreendedorismo mundial. Para quem se considerava “um sujeito que provavelmente teria sido apenas um poeta semitalentoso do Quartier Latin, mas meio que se desviou do caminho”, segundo ele mesmo afirmou em discurso de formatura na Universidade do Stanford, pode-se dizer que a história premiou o talento, a persistência e a vontade de superar os mais indignos obstáculos.

Dezessete anos depois de ter sido adotado, Steve Jobs entrou para a faculdade, conforme desejo de seus pais biológicos, porém, empolgado com as possibilidades do ensino superior de primeiro nível, Jobs escolheu uma instituição tão cara quanto a Universidade de Stanford. Quase toda a poupança da sua família adotiva, de classe média operária, era canalizada para pagar seus estudos.

Seis meses depois de concluir as primeiras disciplinas, Jobs não via muito sentido nisso nem fazia a mínima ideia do que queria fazer da vida, muito menos de como a faculdade poderia a ajudá-lo a encontrar o caminho. Ele sabia apenas que estava sacrificando a família e gastando todo o dinheiro que os pais haviam economizado durante dezessete anos.

Embora fosse assustador na época, Jobs decidiu desistir da faculdade e, segundo ele mesmo afirmou, passou a confiar que tudo iria dar certo. “Foi uma das melhores decisões que tomei na vida”, diria mais tarde. Quando desistiu, pode deixar de assistir as aulas obrigatórias e, como bom ouvinte, passou a frequentar somente as que lhe interessavam.

Com a desistência, a vida de Jobs tornou-se mais difícil. O romantismo do Reed College, em Portand, acabou. Jobs não tinha mais quarto para dormir, então, dormia no chão do quarto de amigos. Nas horas de folga, recolhia garrafas de Coca Cola para reciclagem, o que lhe rendia cinco centavos por garrafa e lhe permitia comprar comida.

Aos domingos, Jobs andava em torno de onze quilômetros atravessando a cidade para conseguir a sua única refeição decente da semana, em um templo Hare Krishna. Apesar do sacrifício, ele adorava tudo isso. “Muitas das coisas com as quais tropeçou ao seguir sua curiosidade e intuição se revelaram inestimáveis mais tarde”, segundo ele.

Como não estudava integralmente, Jobs participava das palestras de produtos eletrônicos da HP, onde arranjou emprego tempos depois e encontrou Stephen Wozniak, egresso da Universidade da Califórnia. Wozniak era um jovem gênio da engenharia que gostava de inventar dispositivos eletrônicos. Não haveria parceiro mais ideal do que Wozniak para colocar em prática as “loucuras” de Jobs, o que ratifica um velho ditado: “ninguém constrói uma empresa sozinho”.

Jobs e Wosniak compareciam regularmente às reuniões do Homebrew Computer Club (Clube do Computador feito em Casa). Os associados eram na maioria tecnófilos, interessados em diodos, transistores e ainda nos dispositivos eletrônicos que poderiam construir com isto.

Jobs era diferente. Segundo relatos de Daniel Goleman, em seu livro Grandes Empreendedores, ele sabia avaliar o estilo, a utilidade e a capacidade de aceitação no mercado, razão pela qual conseguiu convencer Wozniak a trabalharem juntos para a concepção de um computador pessoal. Nasceu, assim, o Apple I, o qual foi projetado no quarto de Jobs cujo protótipo foi construído na garagem da casa de seus pais.

Ao seguir os conselhos úteis de um aposentado da Intel, Jobs e Wozniak fundaram a sua própria empresa. Para viabilizar o projeto, ambos venderam os seus bens mais preciosos na época. Jobs vendeu a sua Kombi VW e Wozniak a sua calculadora HP. Com os US$ 1300 que arrecadaram, os dois iniciaram a Apple. Jobs, aos vinte anos de idade, e Wozniak, aos vinte e seis.

Em pouco menos de dez anos, a Apple havia deixado de ser apenas dois lunáticos numa garagem para se tornar uma empresa de dois bilhões de dólares, com mais de 4.000 funcionários. Um ano depois de lançar a sua melhor criação – o Macintosh –, Steve Jobs completava trinta anos de idade e, então, foi despedido da Apple, por divergências internas com a equipe de comando.

Durante os cinco anos seguintes, Jobs fundou a NeXT e, logo depois, a Pixar, que concebeu o primeiro desenho animado do mundo feito apenas em computador – Toy Story. A Pixar é hoje o estúdio de animação mais bem-sucedido do mundo.

Numa impressionante reviravolta, a Apple comprou a NeXT e, em menos de dez anos, Jobs voltou para a empresa que ele mesmo ajudou a fundar, para alegria dos “applemaníacos” e o bem da companhia. “Nada disso teria acontecido se eu não tivesse sido despedido da Apple. Foi um remédio amargo, mas acho que o paciente precisava dele”, diria mais tarde.

Em 2011, eu tive a oportunidade e a felicidade conhecer a sede mundial da Apple em Cupertino, com um grupo de amigos. Ali, era possível sentir o espírito de Jobs e testemunhar pessoalmente a energia irradiada por alguém que amou o que fez até o último minuto.

Empreender dessa forma e conseguir prosperar transcendem a lógica dos negócios. O que Jobs e Wozniak fizeram vai contra todas as recomendações que você lê nos livros de qualquer grande guru de Harvard, Stanford, MIT ou Yale.

Com base isso, pode-se dizer que empreender vai muito além da simples vontade de querer fazer alguma coisa para ganhar dinheiro. Não existe fórmula mágica para tornar alguém um empreendedor de sucesso. O que existe, de fato, é uma combinação de competências que o pretenso candidato a empreender precisa desenvolver: comportamentais e técnicas.

Você seria capaz de fazer o que Jobs faria? Em termos práticos, você seria capaz de,

a) abandonar a faculdade que seus pais tanto queriam que você fizesse para, simplesmente, ter um diploma na vida?

b) deixar o emprego entediante para apostar naquela ideia maravilhosa que martela sua cabeça há anos?

c) vender o seu bem mais precioso para fazer frente aos compromissos iniciais de um negócio por conta própria?

d) andar na contramão da história, quando todos acreditam que você pode ser um excelente médico, engenheiro, advogado etc. em vez de ser um “lunático” criador jogos online e de sites de busca?

e) enfrentar os mais indignos obstáculos impostos pela sociedade para colocar em prática o sonho que todo mundo acha uma loucura?

f) abrir mão da zona de conforto proporcionada pelo emprego formal com direito a crachá, vale refeição, décimo terceiro, plano de saúde, etc., enquanto trabalha para colocar sua ideia em prática?

São questões intrigantes que somente a sua biologia, a sua história pessoal, a sua cultura e a sua linguagem, pressupostos formadores dos seus modelos mentais, poderão responder de maneira mais assertiva.

Um dos questionamentos de Jobs é fundamental para uma mudança de postura: se hoje fosse o último dia da sua vida, você iria querer fazer o que está prestes a fazer hoje? E toda vez que a resposta é “não” por um número seguido de dias, você sabe que precisa mudar alguma coisa.

Como diria o próprio Steve Jobs, se o trabalho vai preencher uma grande parte da sua vida, o único jeito de ficar satisfeito é fazer o que você julga ser um trabalho excelente. E o único jeito de fazer um trabalho excelente é amar o que você faz.

Agora, com os pés no chão, se você fizer o que Jobs fez, provavelmente, não dará certo. Sua história é diferente, seu mundo é diferente e as circunstâncias atuais são diferentes, portanto, você deve buscar o seu próprio modelo de prosperidade, algo que somente o seu coração e a sua intuição poderão lhe proporcionar com certa segurança.

Pense nisso, empreenda e seja feliz!

 

Sobre o autor:

Jerônimo Mendes: Administrador, Coach, Escritor e Palestrante, apaixonado por Empreendedorismo, Mestre em Organizações e Desenvolvimento Local pela UNIFAE/Curitiba-PR. Autor de Oh, Mundo Cãoporativo! (Qualitymark), Benditas Muletas (Vozes) e Manual do Empreendedor (Atlas).

site: www.jeronimomendes.com.br

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