O Que “Quiet Quitting” Tem a Ver Com “Job Description”?

Antes precisamos entender o que cada termo significa: “Quiet Quitting” é a famosa “operação padrão”, demissão silenciosa, o desejo de sair da empresa. “Job description” é o documento produzido pelo RH com a descrição das tarefas, responsabilidades, pré-requisitos, salário, benefícios, etc. Mas como estes dois elementos se cruzaram?

O mantra “Vista a Camisa” extrapolou seu significado. Durante a pandemia, não só as pessoas vestiram a camisa, como fizeram da casa uma extensão da própria empresa. Se de um lado, os líderes não sabiam muito bem como gerenciar times remotos; do outro, colaboradores cumpriam uma jornada exaustiva – mais do que a necessária – para mostrar que suas entregas poderiam ser feitas com qualidade.  A dinâmica mudou radicalmente:  não existiam mais horários fixos para lanches ou almoços, “conference calls” aconteciam a todo momento e o tempo de qualidade com a família ficou comprometido; a vida virou u m grande circo da Fórmula 1 – só que com apenas uma pessoa para gerenciar toda a logística do evento.

A “job description” sobrecarregou este colaborador, que agora, numa iniciativa de preservar a saúde mental, não aceita mais limites tão sutis – ou inexistentes – entre a empresa e sua vida pessoal: o “burnout” entrou em cena.  Apesar do desemprego, o país passa por uma intensa onda de demissão voluntária. As pessoas não querem executar tarefas que não foram combinadas previamente, porque na prática, a teoria é outra. Aquela “job description” matadora, que enchia os olhos de quem se candidatava, praticamente cumpriu sua função – ela exauriu muita gente. Lembrando que trabalho remoto sempre existiu, mas a pandemia acrescentou um ingrediente indigesto nesta receita.

Para muitos colaboradores, voltar ao presencial mostrou como a empresa pode ser um ambiente tóxico, realçou a falta de empatia da liderança e expôs a falta de reconhecimento da empresa. A pandemia mudou tudo; a forma como trabalhamos, como vivemos e agora precisa mudar a maneira como a empresa trata seus colaboradores.

Quem está flertando com a “demissão silenciosa” procura uma empresa para “vestir a camisa”, mas este profissional quer entender quais claramente quais serão suas funções, o que a empresa espera dele e o que ele pode esperar da empresa.  “Tem que ser bom para os dois”, não é assim que se fala no mundo dos negócios? Se não houver um diálogo muito bem tecido, esta ligação pode se romper, como os números têm demonstrado. O desafio das empresas é entender por que entre julho/2021 e julho/2022 mais de 6,5 milhões de profissionais deixaram de vestir a camisa, e rep ensar se vale a pena buscar resultados a qualquer custo. O que não é combinado é caro. Algumas contas não fecham mais.

Sobre a Autora:

Gladis Costa é profissional de Marketing e Comunicações e fundadora do “Mulheres de Negócios”, grupo criado em 2009, que já conta com mais de 7000 associadas. É colunista em vários sites onde publica artigos sobre marketing, serviços, comportamento, carreira e cultura. É formada em Letras pela Unesp, com pós-graduação em Jornalismo, Comunicação Social e especialização em Tecnologia e Negócios pela PUC-SP. Em 2005 lançou seu primeiro livro de crônicas, “O homem que entendia as Mulheres”.


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